Seguindo as concepções de Solé (1998), Kleiman (2004ab) e Koch e Elias (2008), a formação do leitor crítico está atrelada ao aprender a ler para além da palavra, o que possibilita a real compreensão do texto. Segundo Palincsar e Brown (1984, apud SOLÉ, 1998, p. 70), essa compreensão se dá, entre outras coisas, por meio das estratégias que o leitor utiliza para compreender e lembrar do que lê. Elas regulam as atividades das pessoas “à medida que sua aplicação permite selecionar, avaliar, persistir ou abandonar determinadas ações para conseguir a meta a que nos propomos”( SOLÉ, 1998, p. 69).
Para Kleiman (2004a), o ensino das estratégias de leitura se faz necessário a fim de garantir que se forme um leitor competente, que consegue fazer inferências, dar respostas, fazer resumos, paráfrases, generalizações, manipular o texto a fim de suprir suas necessidades.
De fato, se queremos formar bons leitores na EJA, as estratégias de leitura se revelam muito eficientes, tanto no processamento do texto, quanto no desenvolvimento da autonomia e senso crítico. Elas podem ser estimuladas pelo professor – que exerce a função de guia de leitura – de acordo com as necessidades, os propósitos ou as expectativas do aluno, que por sua vez, decide qual estratégia é a mais adequada naquele contexto.
Metodologicamente, Solé (1998) orienta que as estratégias de leitura precisam ser trabalhadas em três momentos: antes, situando o leitor diante da leitura, provocando-o a fim de que possa assumir um papel ativo no processo; durante, auxiliando na resolução de problemas; e depois da leitura, verificando a compreensão.
Iniciamos apresentando, à luz da autora, o que pode ser feito antes da leitura, para ajudar a compreensão dos alunos: levantamento das “ideias gerais; motivação para a leitura; objetivos de leitura; revisão e atualização do conhecimento prévio; estabelecimento de previsões sobre o texto e formulação de perguntas sobre ele” (SOLÉ, 1998, p. 89).
Durante a leitura, de acordo com a autora, o professor assume postura de mediador e dá ao aluno a oportunidade de assumir uma postura ativa diante do texto: “Os próprios alunos devem selecionar marcas, indicadores, formular hipóteses, verificá-las, construir interpretações e saberem que isso é necessário para obter certos objetivos” (SOLÉ, 1998, p. 117). Também sugere a prática da leitura compartilhada, para que o estudante possa ser guiado na aplicação das estratégias de leitura e posteriormente possa realizar sua leitura de maneira individual e autônoma.
Ao final da leitura, Solé (1998) sugere verificar se houve confirmação das hipóteses e antecipações levantadas antes da leitura. Além de identificar o tema e a ideia principal do texto lido; produzir um resumo; formular e responder perguntas. Desta maneira, quando, ao final da leitura, conseguirmos recuperar a intenção dos textos em direção a seus receptores, com base nas marcas gráficas disponíveis, teremos o leitor que almejamos.
Essas estratégias de leitura propostas por Solé (1998) coadunam, aliás, com o que propõe Rildo Cosson (2007), sobre o ensino de literatura por meio da sequência expandida, cuja proposta embasa a aplicação das atividades apresentadas no post APLICAÇÃO DA SEQUÊNCIA EXPANDIDA, publicado neste blog.
A fim de facilitar a visualização, segue abaixo, um quadro com os passos que podem ser seguidos durante o processo de ensino das estratégias de leitura.
Ambos autores têm ideias semelhantes no que se refere ao ensino das estratégias de leitura, ao afirmarem a necessidade desse ensino acontecer por etapas.
Neste momento, da formação do leitor crítico, o professor tem papel valioso ao ensinar as estratégias e estimular o gosto pela leitura, oportunizando o contato com textos que despertem o interesse do aluno.
Assim o humor, elemento essencial à vida humana, presente nas crônicas de Luis Fernando Verissimo, possa assumir esse papel: de estimular o prazer pela leitura, participando do processo de formação do leitor crítico.
Referências:
COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2007.
KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura: teoria e prática. 10 ed. São Paulo: Pontes, 2004a.
____________. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 9. ed. São Paulo: Pontes, 2004b.
KOCH, Ingedore Villaça, ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2008.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6. ed. Porto Alegre: Penso, 1998.
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